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31/12/2025 08h22
A toque de caixa, como votou a bancada de MS em 22 projetos controversos
Sessões na madrugada expuseram como parlamentares do estado se posicionaram em temas sensíveis
Por Gustavo Bonotto
Às vésperas de mais um ano eleitoral, o Congresso Nacional acelerou votações e aprovou mudanças que impactam diretamente a vida dos brasileiros. Sessões virtuais, tramitações em regime de urgência e deliberações madrugada adentro marcaram 2025 por reduzir o espaço para debate em plenário.
Em muitos casos, a tramitação ocorreu “a toque de caixa”, definida em acordos entre líderes partidários e com uso frequente de votação remota. Ao longo das sessões, ambas as casas do Legislativo promoveram alterações sucessivas nas leis. As mudanças atingiram desde regras penais, tributárias, ambientais e sociais, com efeitos diretos sobre o sistema de justiça, o bolso do contribuinte e políticas públicas.
Para analisar o comportamento do grupo, o Campo Grande News reuniu 22 registros de votações nominais realizadas em 2025, com base nos portais de transparência da Câmara e do Senado. A tabela abaixo detalha voto a voto, quando disponível. A análise destaca convergências, divisões internas e temas que ainda não chegaram ao painel eletrônico da Casa Alta, onde Mato Grosso do Sul é representado por Nelsinho Trad (PSD), Soraya Thronicke (Podemos) e Tereza Cristina (PP). Na Câmara, a bancada reúne Beto Pereira (PSDB), Camila Jara (PT), Dagoberto Nogueira (PSDB), Luiz Ovando (PP), Geraldo Resende (PSDB), Marcos Pollon (PL), Rodolfo Nogueira (PL) e Vander Loubet (PT).
Levantamento pontua 22 distintas pautas votadas em plenário pelo Congresso Nacional. (Arte: Lennon Almeida)
Uma das divisões centrais ocorreu na área da segurança pública, com a votação do PL (Projeto de Lei) Antifacção. O texto amplia penas para integrantes de organizações criminosas, cria agravantes para crimes ligados ao domínio territorial e endurece regras de progressão de regime. A proposta também restringe benefícios penais e amplia hipóteses de transferência para presídios federais. Na tramitação, houve empate: Pollon, Beto, Ovando e Rodolfo votaram a favor, enquanto Camila, Dagoberto, Vander e Geraldo foram contra. Já na segunda análise, Tereza e Soraya apoiaram o texto, e Nelsinho não participou da votação.
No campo econômico, a regulamentação da reforma tributária concentrou parte do debate, com foco no novo IBS (Imposto de Bens e Serviços). O projeto define prazos de transição da reforma tributária, repartição da arrecadação entre União, Estados e municípios e ainda cria um comitê gestor responsável pela cobrança do tributo, que substituirá ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza). Dentro do pacote, a tentativa de limitar a tributação de bebidas açucaradas, sob argumento de saúde pública, dividiu a Câmara. A maioria da bancada sul-mato-grossense votou contra o limite do famigerado "Imposto do Pecado". No Senado, esse ponto ainda não havia sido submetido a votação nominal.
Quando o foco foi o bolso do contribuinte, o cenário mudou. A isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil gerou alinhamento total, com apoio de toda a bancada nas duas casas. Já a isenção de IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) para veículos com mais de 20 anos rompeu o consenso no Senado. Soraya votou contra, enquanto Tereza e Nelsinho foram favoráveis. A exigência de exame toxicológico para CNH (Carteira Nacional de Habilitação) é outra das tratativas com apenas um voto contrário.
No mercado digital, a criação de uma taxa sobre serviços de streaming, como a Netflix, avançou na Câmara. A proposta que tramitou na Casa Baixa busca atualizar a legislação e destinar recursos ao setor cultural, ao exigir contribuição de plataformas estrangeiras. A bancada não teve unanimidade, com votos favoráveis, contrários e ausências. No Senado, o tema ainda não havia sido pautado para votação nominal.
A política comercial trouxe um dos quadros mais claros de divisão interna. O Congresso analisou proposta que autoriza o Brasil a reagir à taxação de produtos nacionais pelos Estados Unidos, com aplicação de tarifas equivalentes. A medida tem impacto direto sobre exportações de Mato Grosso do Sul, de celulose e de ferrogusa. A maioria dos deputados até apoiou o texto, mas no Senado, Tereza e Nelsinho votaram contra a reação automática, enquanto Soraya se posicionou a favor.
O Orçamento da União passou por ajustes ao longo do ano. Deputados aprovaram cortes que atingiram universidades federais e autorizaram reajustes salariais ao funcionalismo. Parte das despesas financiadas pelo Fundo Social do pré-sal, por exemplo, ficou fora do limite do arcabouço fiscal por cinco anos. Entre os deputados sul-mato-grossenses, a maioria apoiou a mudança. Na segunda casa, a votação ocorreu de forma simbólica, sem registro nominal.
Levantamento pontua 22 distintas pautas votadas em plenário pelo Congresso Nacional. (Arte: Lennon Almeida)
Outra polêmica é a tratativa de regulamentação das apostas esportivas, onde o ritmo foi acelerado e o apoio, amplo. Os projetos estabeleceram regras para funcionamento das empresas, cobrança de impostos, fiscalização e destinação de recursos. A Câmara aprovou a taxação com maioria favorável da bancada. O Senado seguiu o mesmo caminho, com votos de Tereza e Soraya. Nelsinho não participou da votação.
Projetos ligados aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro também atravessaram o ano legislativo. Um dos principais alterou critérios de dosimetria das penas, permitiu unificação de crimes praticados no mesmo contexto e ajustou regras de progressão de regime. Na Câmara, a bancada voltou a se dividir ao meio. No Senado, Tereza e Nelsinho votaram a favor, enquanto Soraya foi contra. A urgência para votar propostas de anistia repetiu o racha entre deputados.
No campo institucional, a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que ganhou o apelido de "blindagem" por ampliar proteções a parlamentares avançou na Câmara com Mato Grosso do Sul dividido. O texto altera regras de responsabilização e restringe investigações sem aval do Congresso. No Senado, o único registro nominal no período foi o voto favorável de Soraya na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), antes do arquivamento. Em contraste, a urgência para a criação de uma bancada 100% cristã teve apoio unânime dos oito deputados. O mesmo ocorreu no Senado, ao fixar em oito anos o período de inelegibilidade.
A agenda ambiental concentrou algumas das votações mais sensíveis para o Estado. A prorrogação do prazo para regularização de imóveis rurais em faixa de fronteira foi unânime entre os deputados e teve dois votos favoráveis no Senado. Já o marco temporal, a Câmara se dividiu, mas os três senadores votaram a favor.
Outra convergência aconteceu no projeto que flexibilizou o licenciamento ambiental ao reduzir etapas, ampliar autodeclarações e criar a Licença Ambiental Especial para obras estratégicas. No Senado, Tereza, Nelsinho e Soraya votaram a favor. Na derrubada de vetos presidenciais, a maioria manteve o texto, com ausência da representante do Podemos.
No campo social, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) Digital e a lei contra adultização de crianças seguiram para sanção com maioria favorável na Câmara e apoio integral no Senado após a mobilização de famosos. As normas criaram regras para exposição de crianças na internet e atribuíram responsabilidades a plataformas e responsáveis legais.
Já a proposta que restringe o aborto legal em casos envolvendo crianças vítimas de violência sexual expôs uma das maiores divisões da bancada na Câmara, com quatro votos favoráveis, três contrários e uma abstenção. O texto ainda não havia sido submetido a votação nominal no Senado em 2025.
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