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Fiems 46 anos: a indústria que mudou o mapa econômico de Mato Grosso do Sul


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21/11/2025 06h59 - Atualizado em 21/11/2025 08h05

Fiems 46 anos: a indústria que mudou o mapa econômico de Mato Grosso do Sul

Flavia Melo


 Páginas ainda pouco amareladas, mas estampadas com tipos datilográficos que entregam a passagem do tempo. A ata de fundação de Fiems (Federação da Indústrias Mato Grosso do Sul), cuja cópia é guardada com cuidado pelo engenheiro Alfredo Fernandes, foi o primeiro passo para os 46 anos de história da instituição, completados nesta quinta-feira (06/11).  A trajetória é marcada pelo fortalecimento econômico do Estado, modernização tecnológica e impacto direto na sociedade nos mais diversos âmbitos.

 
A assinatura do Fernandes consta no documento que criou a instituição, que ele viria a presidir entre os anos de 1999 e 2007. Naquele tempo, como ele mesmo diz: “Nós começamos do zero”. Mato Grosso do Sul, recentemente criado, a partir da divisão do então estado de Mato Grosso, em 11 de outubro de 1977, já demonstrava potencial econômico e perspectivas industriais promissoras aliada a uma agricultura de destaque no cenário nacional.
 
Certamente, o engenheiro civil residente em Corumbá topou o desafio, mas não imaginava que o setor industrial se consolidaria como um dos mais importante da economia do Mato Grosso do Sul. Com investimentos bilionários, a indústria contribui de forma decisiva para a geração de empregos e o aumento das exportações. E, por coincidência ou não, a chegada da indústria de celulose e papel, responsável pela produção da matéria-prima do documento que formalizava a criação da Fiems, tem feito a diferença no bom desempenho econômico, respondendo por 39% do total de exportações.
 
Fiems 46 anos: a indústria que mudou o mapa econômico de Mato Grosso do Sul
Engenheiro Alfredo Fernandes. Foto Divulgação
Para o presidente da Fiems, Sérgio Longen, a indústria vive um momento ímpar de desenvolvimento. “É uma data muito importante para uma atividade que, de certa forma, ainda é novidade. A indústria vem se fortalecendo. Vivemos a alegria de uma transformação no Estado, construída há muitas mãos, mas, acima de tudo, um projeto bem planejado, valorizando a produção, valorizando as pessoas, tentando construir em cada região um ponto de desenvolvimento e fazendo a diferença”.
 
Nos últimos anos, a Fiems se destaca principalmente como parceiro do governo do Estado na busca por investimento, em grandes centros, como São Paulo, e também fora do país, com missões para Ásia, África, Europa e Estados Unidos, tendo como um dos atrativos a Rota Bioceânica, corredor logístico que visa conectar o Oceano Atlântico ao Pacífico, encurtando o caminho entre o Brasil e a Ásia. A rota atravessa o Brasil (Mato Grosso do Sul), o Paraguai, a Argentina e chega a portos do norte do Chile.
 
Para o governador Eduardo Riedel, ter uma instituição tão forte e representativa, como a Fiems, na busca de objetivos comuns é estratégico e eficiente na consolidação de grandes projetos. “Especialmente, nos últimos 30 anos viemos tudo que aconteceu nesse estado. A Fiems tem a responsabilidade de um legado construído nesse sentido, como parceira nas discussões, seja com o poder público ou com o privado, na construção de um ambiente de negócios com segurança jurídica, com transparência e busca permanente por equilíbrio fiscal, tudo isso pensando nas pessoas”.
 
MS como polo de investimentos e indústrias que mais crescem no Brasil  
 
É inevitável dissociar a trajetória de 46 anos da Fiems da consolidação da indústria como setor econômico estratégico em Mato Grosso do Sul. Com a atração de investimentos bilionários, a instituição impulsiona o setor a contribuir de forma decisiva para a geração de empregos e o aumento das exportações.
 
Atualmente, a indústria responde por mais de 20% de um PIB (Produto Interno Bruto) em crescimento constante. A estimativa para 2025 é encerrar o ano com R$ 47 bilhões em um universo de R$ 227,8 bilhões. Os números tornaram-se ainda mais robustos com a chegada de grandes empreendimentos do ramo de celulose e papel nos últimos anos, especialmente na chamada Região do Bolsão, no nordeste de Mato Grosso do Sul.
 
A região, liderada pelo município de Três Lagoas, ganhou o rótulo de Vale da Celulose, especialmente com a instalação de multinacionais como a Suzano, em Ribas do Rio Pardo, e a Arauco, em Inocência. Há ainda uma planta industrial comandada pela Bracell, prevista para o município de Bataguassu.
 
A agroindustrialização de base florestal soma-se a um cenário em que a segurança alimentar e a bioenergia já se destacavam em termos de produção. Dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) apontam o setor como o principal responsável pelas exportações de Mato Grosso do Sul. De um total de US$ 6,8 bilhões em exportações, envolvendo 153 países compradores, 39% (US$ 2,7 bilhões) são provenientes das indústrias de papel e celulose, 25% (US$ 1,7 bilhão) do complexo de frigoríficos, 13% (US$ 883 milhões) do setor sucroenergético e 12% (US$ 840 milhões) do processamento de soja e milho.
 
De acordo com o economista-chefe da Fiems, Ezequiel Resende, Mato Grosso do Sul é um dos estados de maior dinamismo econômico e industrial do país, impulsionado por elevados investimentos na ampliação de sua capacidade produtiva, crescimento consistente do PIB e expansão de setores estratégicos.
 
“O Estado se firma como polo nacional de investimentos e produção agroindustrial, com crescimento robusto, forte integração às cadeias globais e perspectivas positivas até 2030”, afirma.
 
A chegada das novas indústrias também gerou um aumento de 80% no valor da transformação industrial nos últimos cinco anos, conforme a PIA/IBGE (Pesquisa Industrial Anual do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
 
Com investimentos de R$ 90 bilhões em ampliação e construção de novas fábricas, o emprego também se fortaleceu. De acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a indústria — composta por 8,2 mil empresas — emprega 170 mil trabalhadores, sendo responsável por 24% dos empregos formais do Estado.
 
Exportações de MS  
 
Valor total: US$ 6,8 bilhões, envolvendo 153 países compradores
Celulose e papel: 39% (US$ 2,7 bilhões)
Complexo frigorífico: 25% (US$ 1,7 bilhão)
Sucroenergético: 13% (US$ 883 milhões)
Processamento de soja e milho (óleos, farelos, pellets): 12% (US$ 840 milhões)
Fonte: ComexStat/MDIC 
 
Indústria que alavanca negócios e transforma vidas 
 
Mais do que funcionar como impulsionadora do desenvolvimento econômico, a Fiems representa um elo entre a indústria e a sociedade. Sesi, Senai e IEL — marcas históricas e familiares — são instituições estratégicas para levar os investimentos do setor à ponta. Em 46 anos de história, a Federação fortaleceu as ações de cada uma dessas entidades e as levou à vida das pessoas das mais diversas formas.
 
Encontrar práticas inovadoras em uma agroindústria que, até pouco tempo, era tida como arcaica é algo comum hoje nas empresas de Mato Grosso do Sul. Em muitas delas, a Fiems é apontada como principal fomentadora das modernizações. Engana-se quem pensa que os estímulos se limitam ao âmbito tecnológico. Na Real H, por exemplo, a parceria de maior sucesso deu-se justamente na área da sustentabilidade.
 
A gerente administrativa e financeira do Grupo Real H, Solange Kulhawa, calcula grandes benefícios a partir das parcerias com a Fiems. A aliança de maior visibilidade está no processo que levou a indústria, cuja matriz fica em Campo Grande, a ser a primeira de Mato Grosso Sul a receber o Selo ESG Fiems, o que a projetou internacionalmente.
 
Formado pelas marcas Homeopet, CMR e Real H, o grupo é um dos pioneiros no ramo da homeopatia veterinária e destaca-se por ações de reciclagem de resíduos e pela busca da descarbonização, pilares para a consolidação de práticas nos âmbitos ambiental, social e de governança.
 
“O Núcleo ESG Fiems teve papel essencial nessa trajetória, auxiliando-nos na construção da agenda de sustentabilidade, na implementação das ações, no acompanhamento dos resultados e na realização do diagnóstico que reconheceu oficialmente nossas boas práticas. Os consultores identificaram alto grau de maturidade nas nossas iniciativas de ESG, o que nos qualificou como a primeira indústria apta a seguir para o processo de certificação conduzido por auditoria independente”, explica a gerente.
 
O reconhecimento das ações ultrapassou fronteiras: Fiems e CNI indicaram o Grupo Real como modelo de sucesso para a COP-30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), realizada em Belém (PA) em novembro de 2025. “É um reconhecimento ímpar do nosso engajamento e dos resultados alcançados em sustentabilidade e gestão responsável”, destaca Kulhawa.
 
 
Formatura turma PCD's. Foto Divulgação
Oportunidades diante da falta de perspectiva 
 
Efetivado na indústria Santa Helena, no setor de recrutamento e seleção, Paulo Henrique Cordeiro de Souza Pereira, de Nova Andradina, é exemplo do estímulo que os cursos do Senai despertam nos alunos. Deficiente visual desde os 14 anos, quando perdeu a visão após cirurgia para retirada de tumor cerebral, ficou sem perspectivas profissionais durante o processo de adaptação à nova condição.
 
A situação mudou com a abertura, pelo Senai, de turma exclusiva de assistente administrativo para pessoas com deficiência. “Eu estava limitado em relação ao trabalho. O curso foi uma grande oportunidade. Não tinha perspectiva do que fazer depois do Ensino Médio”, afirmou.
 
Além da teoria, as aulas, iniciadas em outubro de 2023, incluíam modalidade prática: os alunos atuaram como aprendizes na Usina Santa Helena. Assim, além de aprenderem uma nova profissão, tiveram a experiência do primeiro emprego.
 
“Senti-me muito acolhido, tanto na empresa quanto no Senai, no processo de aprendizagem e para desenvolver meu trabalho. Fiquei focado na área de recrutamento. Gostei muito da forma como fui incluído”, diz.
 
Com a experiência no setor de recursos humanos, Paulo sentiu necessidade de aprofundar os estudos. No início do ano, antes mesmo de concluir o curso profissionalizante, ingressou no curso de Administração da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). “Está sendo uma grande experiência, que me permite ampliar ainda mais minha perspectiva profissional”, acredita.
 
Para ele, o principal impacto do projeto é o estímulo às empresas para a inclusão de pessoas com deficiência. “Muitas empresas não têm essa estratégia. Cadeirantes, por exemplo, esbarram em grandes problemas de adaptação”.
 
Somente no ano passado, o Senai Mato Grosso do Sul formou 64 alunos com deficiência em cursos técnicos e emitiu mais de 106 certificados de qualificação profissional para esse público. Segundo a coordenadora pedagógica Taís Gimenez, boa parte dos cursos foi oferecida nos municípios de Rio Brilhante, Glória de Dourados, Dourados, Ivinhema e Nova Andradina, por meio de parcerias com indústrias como Atos, Adecoagro, Raízen e Santa Helena.
 
“A inclusão e a diversidade precisam ser vivenciadas na prática. Ao qualificar uma pessoa com deficiência, ela pode ingressar no mercado como aprendiz ou efetivo, alterando significativamente o contexto de vida dela e de sua família. A qualificação abre portas para inclusão efetiva, proporcionando competências para executar funções de maneira ativa”, destala a coordenadora.
 
 Fiems 46 anos: a indústria que mudou o mapa econômico de Mato Grosso do Sul
Certificado ESG - Foto Divulgação
A corrida como motivação e prazer para os trabalhadores da indústria 
 
Além dos negócios e da formação de mão de obra, a indústria investe na melhoria de vida da população. Maior e mais representativo evento do Sesi, a Corrida do Pantanal conquistou o Brasil em suas quatro edições. O atleta Ederson Rodrigo de Jesus, 38 anos, esteve no pódio de todas.
 
Em 2025, conquistou medalha de ouro na categoria indústria. Sua história com a corrida, porém, começou bem antes: a primeira competição que participou foi organizada pelo Sesi. A edição de 2014 da extinta Volta das Nações foi a responsável por desafiá-lo num processo que envolvia a perda de parte dos 118 kg que atingira.
 
Na ocasião, descobriu a possibilidade de concorrer na categoria indústria e aumentar as chances de subir ao pódio. Hoje, funcionário da União Plásticos, em Campo Grande, alcançou os resultados planejados anos antes: subiu ao pódio em todas as edições da Corrida do Pantanal, com o prêmio máximo em 2025.
 
“Além do pódio, a corrida é celebração de vida e saúde. Muitos continuam, independentemente de resultados ou prêmios. Acho muito gratificante participar da Corrida do Pantanal, porque a categoria indústria é uma forma de os trabalhadores serem reconhecidos. Hoje, muitos atletas, com tempo para se preparar, vêm de fora. Nós corremos mesmo em meio às obrigações do dia a dia e conseguimos entregar boa performance, fortalecendo nossa saúde”, acredita o profissional.
 
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