- mell280
18/12/2025 05h51
O dilema financeiro de quem ganha em dólar e vive em real
Por Eduardo Garay, CEO da TechFX*
Nos últimos anos, trabalhar para o exterior deixou de ser exceção e se tornou uma estratégia concreta de crescimento para milhares de brasileiros, a combinação de trabalho remoto, digitalização acelerada e escassez global de talentos abriu portas que antes pareciam restritas a poucos. Em 2024, a contratação de profissionais brasileiros por empresas estrangeiras cresceu 53%, consolidando o país como um dos principais polos de mão de obra qualificada do mundo, segundo o Relatório Global de Contratações Internacionais 2024, realizado pela Deel
Ainda de acordo com o levantamento, o Brasil subiu uma posição no ranking global e agora ocupa o 5º lugar entre os países com maior número de profissionais contratados por companhias internacionais, um dos principais atrativos desse movimento é a remuneração em moeda estrangeira, no último ano. Os salários pagos a brasileiros em dólar registraram aumento de 4%, mas o diferencial mais significativo veio da valorização da própria moeda americana, que acumulou alta de 27,34% frente ao real, ampliando de forma expressiva o poder de compra local para quem trabalha remotamente para o exterior
Hoje, profissionais de tecnologia, marketing, design, finanças, atendimento, educação e tantas outras áreas participam ativamente do mercado internacional, esse avanço ampliou horizontes de carreira e renda, mas também trouxe um dilema que até pouco tempo não fazia parte da rotina desses trabalhadores, como lidar com a realidade de ganhar em dólar e gastar em real. À primeira vista, o modelo parece exclusivamente vantajoso, a diferença cambial cria a impressão de que trabalhar para fora resolve grande parte das pressões financeiras, mas a verdade é mais complexa.
Gerenciar uma renda global exige preparo, estratégia e um entendimento claro do que significa depender de uma moeda forte em um país com uma das moedas mais voláteis do mundo. Receber em dólar, por si só, não garante estabilidade, é preciso saber lidar com oscilações cambiais, com prazos e custos de recebimento e com a segurança de todo o processo. A conversão não é apenas matemática, depende de timing, das condições de mercado e da capacidade de transformar o salário dolarizado em previsibilidade no dia a dia
É justamente aí que muitos trabalhadores globais subestimam o risco, o real oscila de maneira intensa e, em poucas semanas, essas variações podem comprometer todo um planejamento financeiro, ganhar em dólar abre oportunidades reais, mas, sem estrutura e conhecimento, pode rapidamente se transformar em vulnerabilidade
Além disso, existe um impacto mais amplo que nem sempre é percebido, a renda global não transforma apenas a vida de quem recebe, ela movimenta setores produtivos, injeta divisas na economia e eleva o padrão de vida de famílias e comunidades, é um fenômeno econômico relevante, com potencial de impulsionar regiões inteira. Mas, para que esse ciclo seja sustentável, é fundamental que mais pessoas tenham acesso às ferramentas e ao conhecimento necessários para navegar essa realidade com maturidade financeira e tecnológica
O problema é que, enquanto o trabalho remoto internacional evoluiu rápido, a infraestrutura financeira tradicional não acompanhou esse ritmo, tarifas elevadas, prazos longos e pouca transparência ainda criam fricções que não fazem sentido em um mundo onde o talento é distribuído e as oportunidades são globais. O profissional que atua nesse novo cenário não pode depender de sistemas pensados para outra época, ele precisa de velocidade, clareza, segurança e custos justos. E isso só se entrega quando tecnologia e experiência são construídas a partir das demandas reais de quem recebe em moeda forte
No fim, a pergunta que realmente importa é como garantir que esse benefício não se transforme em fragilidade, a resposta passa por educação financeira, planejamento e, principalmente, tecnologia. O desafio não é apenas converter dólar em real, é construir um modelo de vida e de carreira alinhado ao futuro da economia, com mais segurança, menos fricção e maior controle.
*Eduardo Garay é CEO e fundador da TechFX, principal plataforma de câmbio para brasileiros que trabalham para empresas do exterior. Com mais de 10 anos de experiência, o executivo acumula passagens por grandes companhias financeiras, como a XP Investimentos, sendo responsável por desburocratizar serviços com a aplicação da tecnologia e inovação.



