29/09/2025 15h56
Especialistas alertam: o jornalismo enfrenta desafios crescentes para conter a desinformação na era da IA
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Mais de 50 jornalistas do Brasil se reuniram para discutir o papel da tecnologia no combate à manipulação da informação, em encontro promovido pela agência de comunicação integrada Latam Intersect
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Veja cinco pontos-chave que surgiram a partir desse debate
Com o objetivo de debater um tema crítico e de profunda relevância social — devido ao seu impacto direto nas decisões cotidianas da sociedade — mais de 50 jornalistas de todo o Brasil atenderam ao webinar, que ocorreu de forma virtual. Com o título “Combatendo a desinformação: o poder da checagem de fatos e o papel do jornalista em tempos de IA”, o webinar compõe a série ‘Intersecção de Valor’ - eventos que discutem temas de relevância para a comunicação, organizado pela agência de comunicação integrada LatAm Intersect. O evento trouxe ideias claras sobre como enfrentar a desinformação em um cenário em que mentiras se propagam rapidamente.
Com a presença de especialistas de peso como Ben-Hur Correia - repórter do Grupo Globo e pesquisador do Centro de Estratégia e Inovação da Coppead/UFRJ; Raphael Kapa - jornalista, professor, pesquisador, coordenador de Educação da Agência Lupa e colunista da Rádio Roquette Pinto; e Sérgio Lüdtke, jornalista e editor-chefe do Projeto Comprova, coalizão de 42 veículos de mídia contra a desinformação, o encontro não se limitou a mais um diagnóstico sobre o problema, mas foi uma conversa urgente sobre como o jornalismo pode usar a tecnologia para recuperar terreno frente à manipulação sistemática da opinião pública.
“Quisemos criar um espaço onde jornalismo e tecnologia se encontrassem por meio do pensamento crítico e da colaboração. A checagem de fatos nunca foi tão necessária, e, ao mesmo tempo, tão complexa. Hoje, não se trata apenas de verificar fatos, mas de compreender como em tempos de IA a tecnologia pode ser tanto uma aliada quanto uma ameaça”, explicou Claudia Daré, cofundadora e diretora da LatAm Intersect, que também intermediou o debate.
Para a realização do webinar, que também já aconteceu para jornalistas da América Latina hispânica, a agência conduziu uma pesquisa nos países onde tem operações, para medir o uso de checagem de fatos e o nível de preparo dos jornalistas da região para lidar com o problema. Ao entrevistar mais de 200 profissionais em 10 países da América Latina, descobriu-se que a maioria tinha interesse em se aprofundar sobre o tema. Pouco mais da metade, 54,2%, afirmou não contar com protocolos ou ferramentas específicas de fact-checking em seus veículos e apenas 11,9% disseram estar em fase de implementação — o que reforçou a urgência de criar esse espaço.
“O que me impressionou nessa pesquisa foi o fato de que muitos jornalistas ainda não utilizam a checagem de fatos em seu dia a dia, uma das primeiras e principais matérias da faculdade. Se hoje vivemos essa nova realidade do jornalismo, precisamos nos reinventar como profissionais e não dar chance para a desinformação se tornar cada vez maior ao dar espaço ao jornalismo declaratório, onde uma parte do discurso é retirada e inserida num contexto malicioso e mentiroso”, disse Raphael Kapa.
A pesquisa da LatAm Intersect revela que, no Brasil, 62,5% dos jornalistas ainda não utilizam ferramentas tecnológicas para verificar informações, e 7,7% recorrem ao ChatGPT com essa finalidade. Quando questionados sobre quais são suas principais fontes para verificar informações, 31,3% afirmaram que fazem checagem por meio de sites de notícias confiáveis e as fontes que geraram os dados iniciais. 12,5% revelaram acessar sites especializados para apurar se as informações são confiáveis.
“Existem diversas ferramentas que surgiram para a checagem de informações, que podem auxiliar em nosso cotidiano. No entanto, reforço que não dá para chamar a IA de colega, pois ela é uma assistente. Gostaria que as pessoas voltassem a tratá-la dessa maneira, pois ela pode ser uma motosserra: deve ser usada com cuidado e com as duas mãos para evitar que algo ruim aconteça”, alertou Sérgio Lüdtke.
Na América Latina, ao levar em consideração jornalistas de todos os países que participaram do estudo - Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, México e Perú - foi constatado que 33,3% geralmente checam informações em sites especializados e 28,9% por meio de suas fontes principais.
No entanto, Ben-Hur Correia destacou que as big techs devem se responsabilizar por informações falsas, agindo de forma mais efetiva em relação à disseminação de fake news. “Num momento em que as eleições do país se aproximam, em 2026, é necessário que as plataformas sejam responsabilizadas por suas publicações. Sabemos que o Tribunal Superior Eleitoral agiu de forma diferenciada nas últimas eleições, mas muita coisa mudou e é preciso que mais atores estejam envolvidos nessa batalha contra a desinformação. Não podemos deixar que essa massificação da mentira ocorra”, avaliou.
Os dados mostram que há a necessidade do uso de plataformas mais efetivas para que os profissionais de comunicação possam checar a veracidade das informações nos principais países da região. “Diante de todos esses dados, como agência de comunicação, a LatAm Intersect assume sua parcela de responsabilidade frente à crise da desinformação, não apenas em seu trabalho com a imprensa, mas também ao impulsionar espaços de troca e formação como este. A série ‘Intersecção de Valor’ nasce justamente dessa necessidade: contribuir ativamente para o ecossistema informativo, que está além de interesses comerciais”, acrescentou Daré.
Os 5 principais aprendizados deixados pelos especialistas:
1. Processo de checagem deve vir antes da ferramenta
A checagem de dados deve começar pelo processo investigativo, aplicando critérios clássicos de apuração, como ouvir fontes, conferir registros e contextualizar informações. O jornalismo declaratório, que reproduz falas sem verificação, contribui para a disseminação de desinformação em política, cultura, esporte e entretenimento. Priorizar a apuração é essencial para restaurar a credibilidade do jornalismo e oferecer informações confiáveis ao público.
2. Educação informacional e letramento digital no combate à desinformação
A checagem de fatos depende da participação da sociedade. A educação informacional deve ser prioridade, incorporando o letramento digital às escolas e programas de formação, desenvolvendo habilidades críticas para analisar fontes e avaliar conteúdos em redes sociais. Materiais acessíveis, como ebooks, podcasts e vídeos, ajudam cidadãos de todas as idades a se tornarem mais resistentes à desinformação.
3. Inteligência Artificial como desafio e ferramenta de uso diário, mas usada com cuidado
A Inteligência Artificial é ao mesmo tempo aliada e ameaça para o jornalismo. Usada como assistente, otimiza processos, organiza dados e acelera pesquisas. Mas, se mal utilizada, pode gerar manipulação e deepfakes realistas, como em golpes envolvendo figuras públicas como César Tralli e William Bonner. Lüdtke compara a IA a uma motosserra: poderosa se bem usada, perigosa, se usada de forma irresponsável. Por isso, a checagem de fatos deve incluir análise de metadados, rastreamento de origens e consulta a especialistas.
4. Desinformação como estratégia e modelo de negócio impacta diversos setores
Hoje, as fake news funcionam como um modelo de negócio, organizadas para gerar lucro, influência política e manipulação social. Campanhas coordenadas atingem desde eleições até apostas e golpes digitais, explorando emoções e desejos de ganho rápido. Mapear quem produz, financia e distribui esses conteúdos é essencial para entender os interesses por trás das narrativas falsas e reduzir seu impacto.
5. Regulação, cooperação e responsabilidade compartilhada: a responsabilidade das bigtechs
O combate à desinformação é uma responsabilidade compartilhada entre jornalistas, governos, sociedade civil e big techs, que devem identificar e remover conteúdos manipulados, especialmente em períodos eleitorais. A cooperação entre redações fortalece a checagem e amplia a capacidade de resposta frente à sofisticação crescente da desinformação digital, considerando que muitas equipes ainda não têm treinamentos específicos. Assim, a união de esforços amplia a capacidade de resposta diante da sofisticação crescente da desinformação digital.
Ferramentas recomendadas pelos especialistas para uso diário em redações e por criadores de conteúdo:
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Canva: Tradutor de slides de apresentações. Traduz automaticamente para 134 idiomas.
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Deepware: Para detectar vídeos deep fakes criados com IA.
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SynthID: Para marcar e identificar conteúdos de áudio e imagem gerados por IA, sobretudo em IAs do Google. Em fase beta.
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Sensity: Para detectar deepfakes e conteúdos de vídeo, áudio e imagem criados com IA.
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Grammarly IA Detector - para detectar textos gerados por IA.
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ChatGPT: Chatbot desenvolvido pela OpenAI.
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Aiornot: Para detectar conteúdos de áudio e imagem criados por IA.
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Gemini: IA do Google que ajuda a escrever, planejar, aprender e muitas outras coisas mais.
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NotebookLM: Assistente de pesquisa de IA personalizado, desenvolvido com o Gemini.
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Leap.IA: Busca informações sobre a titularidade de um email com base em IA.
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Journalist's Toolbox AI: Compilado de recursos e caixas de ferramentas de IA.
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SIFT Toolbox: Prompt desenvolvido por Mike Caufield para checagem no Chat GPT.
Sobre a LatAm Intersect PR
LatAm Intersect é uma agência de comunicação integrada especializada em campanhas corporativas e de consumo, com atuação em toda a América Latina. Reconhecida por sua excelência, foi nomeada uma das cinco melhores agências do ano na América Latina pelos SABRE Awards Latin America em 2022 e 2024. Seus fundadores, Claudia Daré e Roger Darashah, figuraram na lista PRovoke 25 America’s Innovators Professionals em 2022 e 2024, respectivamente, sendo Claudia a única brasileira a integrar o ranking.
O nome Intersect reflete o princípio fundamental da agência: em um mundo cada vez mais orientado por big data e automação, a capacidade de se conectar de forma autêntica com as pessoas, por meio de relações, evidências e diálogo, é indispensável para empresas que desejam ser relevantes no mercado.
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