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O futuro incerto da trégua comercial entre EUA e China


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  • mell280

04/07/2025 13h10

O futuro incerto da trégua comercial entre EUA e China

Bartira Betini


Por Emanuel Pessoa* 

Pequim e Washington intensificaram os esforços para cumprir os compromissos assumidos nas mais recentes negociações comerciais. Ainda assim, o Ministério do Comércio da China advertiu diretamente os Estados Unidos de que qualquer ação que ameace o consenso, descrito como “duramente conquistado”, pode desestabilizar um equilíbrio já bastante frágil. O clima de tensão aumenta diante da pressão dos prazos e da memória recente das negociações complexas com Londres.

Embora notícias recentes mostrem que o Ministério do Comércio de Pequim celebra a intensificação das ações para implementar a Estrutura de Londres, pontos como a retomada das exportações de terras raras pela China e o retorno das restrições tecnológicas por parte dos EUA revelam a fragilidade desse entendimento.

Além disso, a vulnerabilidade do acordo fica exposta pelo risco de reversão, alimentado pelos acordos paralelos que os Estados Unidos vêm firmando com Reino Unido e Vietnã, em uma estratégia clara para impedir que a China redirecione suas exportações por rotas alternativas. Se Washington vê até aliados estratégicos como potenciais obstáculos, não seria surpreendente que recuasse, sem maiores cerimônias, dos compromissos assumidos com Pequim.

No contexto global, as terras raras se tornaram uma das principais alavancas do poder econômico chinês. Esses minerais, essenciais para a produção de tecnologias estratégicas, são amplamente controlados por Pequim. Ao restringir ou liberar licenças de exportação conforme seus interesses geopolíticos, como tem ocorrido nas negociações com os EUA, a China mantém o compasso da inovação tecnológica mundial.

Diante disso, a implementação do acordo exige mais do que compromissos assinados, mas requer confiança mútua, algo raro em um cenário de rivalidade estratégica. Em um ambiente onde cada gesto é interpretado como vantagem ou ameaça, a estabilidade do pacto depende sobretudo da disposição real de cumprir o prometido.

A ausência de garantias sólidas para a continuidade deixa o consenso em terreno instável e, se não houver avanços reais na construção da confiança, é apenas questão de tempo até que a guerra comercial, que nunca deixou de rondar o cenário global, seja reacendida.

*Emanuel Pessoa é advogado especializado em Direito Empresarial, Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela USP e Professor da China Foreign Affairs University, onde treina a próxima geração de diplomatas chineses.