Com o avanço da regulação sobre inteligência artificial, a judicialização de pautas ambientais e a instabilidade política crescente, empresas vêm reposicionando suas áreas de relações governamentais como núcleos estratégicos de influência pública. Essa foi a parte central  da mesa “Relações Governamentais na Era da Hesitação”, realizada na 9ª edição do Aberje Trends, em São Paulo.

Participaram do debate Felipe Oppelt, diretor de Public Affairs da Prospectiva; Juliana Arantes Durazzo Marra, diretora de Comunicação e Assuntos Corporativos da Unilever Brasil; e João Vitor Vicente, coordenador de Relações Institucionais e Global Advocacy da Braskem. A mediação foi de Sarah Bonadio, diretora global de Assuntos Corporativos do Grupo Alpargatas.

Felipe Oppelt, da consultoria Prospectiva, abriu o painel destacando que o ambiente atual das relações governamentais é marcado por ruído, hesitação e disputas sobre a própria noção de verdade. Ele apresentou o processo de articulação do marco legal do hidrogênio verde como exemplo de construção regulatória baseada em técnica, narrativa e propósito. “Mesmo em cenários instáveis, é possível entregar resultados quando há articulação sólida e propósito claro. Quem comunica mal perde espaço. Quem se omite, é esquecido”, afirmou.

Na sequência, Juliana Durazzo, da Unilever, reforçou a importância da legitimidade como ponto de partida nas interlocuções com o poder público. Ela apresentou o case da campanha Dove pela Autoestima, que impactou mais de 60 milhões de pessoas desde 2004 e resultou na proposição do Projeto de Lei 329/2024, voltado à proteção de meninas contra os efeitos de filtros digitais nas redes sociais. “Não é sobre dar opinião. É sobre contribuir com quem já atua no tema”, afirmou.

João Vicente, da Braskem, trouxe a experiência da petroquímica nas negociações do Acordo Global sobre Plásticos, conduzidas no âmbito da ONU. Segundo ele, a indústria química, presente em 99% dos setores produtivos, precisa traduzir a linguagem técnica em diálogo com a sociedade. “A comunicação tem papel decisivo em aterrissar debates complexos, dar sentido público às soluções e gerar entendimento em meio à polarização geopolítica.”

O painel também abordou os formatos e o timing da atuação pública. O executivo da Braskem ressaltou que o tempo das políticas públicas é diferente da urgência social, e que cabe às empresas antecipar cenários e propor soluções antes que temas se tornem crises. 

Para Juliana não há modelo único para organizar a área de relações governamentais: “Depende do negócio, do setor e do momento. O importante é garantir alinhamento com a liderança e a área jurídica.

A percepção do lobby também foi discutida com franqueza. Segundo Felipe Oppelt, o Brasil ainda confunde lobby legítimo com tráfico de influência. “Hoje temos dados, resultados concretos e pleitos evitados por meio de uma atuação técnica. As relações governamentais têm poder transformador. E é isso que, no fim das contas, melhora o país.”, finaliza

Sobre a Aberje
A Aberje - Associação Brasileira de Comunicação Empresarial é uma organização profissional e científica sem fins lucrativos e apartidária. Tem como principal objetivo fortalecer o papel da comunicação nas empresas e instituições, oferecer formação e desenvolvimento de carreira aos profissionais da área, além de produzir e disseminar conhecimentos em comunicação. Com mais de 1.000 empresas associadas, está presente em diversas partes do Brasil a partir dos seus Capítulos Regionais, e também possui forte representação em instituições internacionais, posicionando-se como um think tank da Comunicação Empresarial Brasileira.

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