- mell280
02/12/2025 14h04
Danos à saúde associados a apostas podem gerar um custo à sociedade de pelo menos R$ 30,6 bi ao ano, revela dossiê inédito
- Os custos dos danos associados ao jogo problemático podem ser de pelo menos R$ 38,8 bilhões anuais. Os custos relativos apenas aos danos à saúde são de pelo menos R$30,6 bilhões por ano.
- Os custos com danos à saúde podem ser de pelo menos R$ 17 bilhões por mortes por suicídio e R$ 13,4 bilhões pela perda de qualidade de vida decorrente de depressão e tratamentos médicos.
- No primeiro semestre de 2025, os lucros do setor de apostas online chegaram a R$17,4 bilhões. A arrecadação do setor pela Receita Federal passou de R$ 38 milhões entre janeiro e setembro de 2024 para R$ 6,8 bilhões no mesmo período de 2025. Apesar do crescimento, os valores são baixos diante do custo dos danos à sociedade.
- Apenas 1% do valor arrecadado com a receita bruta é destinado ao Ministério da Saúde. Até agosto de 2025, o repasse somava pouco mais de R$32 milhões, segundo informações do Ministério da Fazenda.
Rio de Janeiro, 02 dezembro de 2025 - Os danos à saúde associados a apostas e jogos de azar podem gerar um custo de pelo menos 30,6 bilhões por ano à sociedade, revela o dossiê inédito “A Saúde dos brasileiros em jogo: Análise político-econômica da regulamentação de apostas online e seus impactos para a saúde da população brasileira”, elaborado pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) em parceria com a Frente Parlamentar da Saúde Mental (FPSM) e a Umane. O custo total dos danos associados ao jogo problemático é estimado em pelo menos R$ 38,8 bilhões anuais, que inclui também impactos relacionados a outros fatores como perda de emprego, de moradia e aprisionamento.
Os custos dos danos à saúde associados ao jogo são de R$ 17 bilhões relativos a mortes por suicídio e R$ 13,4 bilhões relativos à depressão, sendo R$ 10,4 bilhões pela perda de qualidade de vida e R$ 3 bilhões em tratamentos médicos. As estimativas envolvem custos diretos para o Estado, mas também custos sociais indiretos, mais amplos, associados à perda de qualidade e duração de vida, medidos em anos de vida ajustados pela qualidade (QALY, na sigla em inglês), medida usada na área da saúde para calcular quantos anos de vida saudável uma pessoa perde por causa de uma doença ou condição.
O dossiê utilizou os percentuais do terceiro Levantamento Nacional sobre o uso de drogas pela população brasileira (Lenad III), que aponta que o Brasil possui cerca de 12,7 milhões de pessoas em situação de uso arriscado de jogos de apostas. Os valores foram calculados com base nas estimativas de custo econômico e social apresentadas em 2023 pelo Office for Health Improvement and Disparities (OHID) do governo britânico, utilizando a paridade do poder de compra (PPC) para Brasil e Reino Unido.
Custos bilionários para o Brasil, lucros bilionários para as bets
Os prejuízos sociais bilionários contrastam com os lucros expressivos do setor de apostas online, que só no primeiro semestre deste ano lucrou R$17,4 bilhões. A arrecadação também cresceu, mas em níveis considerados insuficientes diante do custo dos danos sociais.
O dossiê mostra que, após a implementação da tributação sobre o setor, a arrecadação passou de R$ 38 milhões entre janeiro e setembro de 2024 para R$ 6,8 bilhões no mesmo período de 2025, um aumento de 180 vezes.
O montante arrecadado aproxima o setor de apostas de mercados consolidados, como o de bebidas e de produtos do fumo, evidenciando a rápida expansão e o peso fiscal do setor.
Apenas 1% da arrecadação é destinada para a Saúde
Apesar do crescimento arrecadatório e dos custos sociais bilionários relativos aos danos à saúde, apenas 1% do valor arrecadado sobre a receita é destinado ao Ministério da Saúde. Até 25 de agosto de 2025, o repasse somava pouco mais de R$32 milhões, segundo informações do Ministério da Fazenda em resposta ao requerimento de informação enviado pelas organizações responsáveis pelo estudo.
Além de irrisório diante dos custos sociais estimados, o país ainda não possui uma vinculação orçamentária específica para financiar ações de cuidado no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), o que impede que seja verificada a equivalência ou discrepância entre os recursos obtidos pelo Estado com a tributação e os custos arcados pelo SUS.
Sobre o dossiê
A publicação “A Saúde dos brasileiros está em jogo: análise político-econômica da regulamentação de apostas online e seus impactos para a saúde da população brasileira” é uma iniciativa do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), da Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental (FPSM) e da Umane. O documento analisa de forma integrada os efeitos sanitários, econômicos e sociais da expansão das apostas online no Brasil, contribuindo para o debate político sobre a necessidade de uma regulação que priorize a proteção da saúde e o bem-estar da população.
A partir de evidências econômicas, epidemiológicas e informações oficiais do Governo Brasileiro inéditas, o documento busca demonstrar como o crescimento acelerado do setor de apostas online, favorecido pela tecnologia, falta de regulação, ampla exposição midiática e pela ausência de políticas públicas estruturadas, já apresentam impactos significativos sobre o endividamento das famílias, o aumento dos casos de transtorno do jogo e o agravamento de quadros de sofrimento mental, com o potencial de promover danos multifacetados de alto custo à sociedade.
Sobre o IEPS
O Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) é uma organização sem fins lucrativos, independente e apartidária, que tem como objetivo fortalecer as políticas de saúde e o SUS por meio de incidência política e evidências científicas. Um de seus projetos é a “Agenda Mais SUS: Evidências e Caminhos para Fortalecer a Saúde Pública no Brasil”, uma realização do IEPS e da Umane, com o objetivo de contribuir com o debate público eleitoral e subsidiar a próxima gestão do Governo Federal a partir de diagnósticos e propostas concretas para o aprimoramento do SUS.
Sobre a Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental
A Frente Parlamentar da Saúde Mental é uma iniciativa do parlamento federal para fortalecer as políticas de saúde mental no país, reunindo mais de 200 deputados e senadores em torno do tema. A Frente tem como missão fortalecer o SUS, a Política Nacional de Saúde Mental e a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), possibilitando a promoção de saúde por meio do resgate e avanço da Reforma Psiquiátrica, sem deixar de enfrentar os novos desafios do nosso tempo.
Sobre a Umane
A Umane é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que tem como propósito fomentar a saúde pública, ampliando sua equidade, eficiência e qualidade para todas as pessoas que vivem no Brasil. Atua em parceria com organizações filantrópicas em saúde — implementadores, parceiros técnicos e de mídia, coinvestidores e poder público. A Umane promove o intercâmbio de boas práticas, conectando redes de colaboração.


