- mell280
18/09/2025 04h19 - Atualizado em 18/09/2025 05h25
Câmara aprova urgência para projeto de anistia com placar de 311 a 163 votos, mas texto ainda será definido
Proposta levada ao plenário foi apresentada em 2023 por Marcelo Crivella, mas parlamentares ainda devem discutir alterações e se ex-presidente Jair Bolsonaro será beneficiado; não há acordo para votação do mérito
A Câmara aprovou nesta quarta-feira, pelo placar 311 a 163, dar regime de urgência a um projeto de lei que prevê anistia a envolvidos em atos antidemocráticos. O presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), cedeu à pressão da bancada bolsonarista que cobrava a aceleração da proposta após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe e outros quatro crimes.
O requerimento de urgência acelera a tramitação de uma proposta de anistia apresentada em 2023 pelo deputado Marcelo Crivella (Republicanos-RJ). O texto original prevê perdão amplo a todos que participaram de “manifestações políticas e/ou eleitorais” desde 30 de outubro de 2022 — data da derrota de Bolsonaro nas urnas — até a atualidade. Parlamentares, no entanto, afirmam que o projeto de Crivella servirá apenas como “carcaça” para uma nova versão, que deve tratar exclusivamente da redução de penas, e não de um perdão irrestrito, como defende a oposição.
O texto, porém, deve servir apenas de "carcaça" para um novo projeto de anistia, ainda a ser definido. Parlamentares afirmam não haver acordo sobre a inclusão do ex-presidente Jair Bolsonaro entre os beneficiários da medida. A votação da urgência ocorrreu menos de uma semana após a condenação do ex-chefe do Palácio do Planalto a uma pena de 27 anos por tentativa de golpe e outros quatro crimes pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou "não ter compromisso com nenhuma pauta que traga ainda mais polarização" no país e que, caso a urgência seja aprovada, a intenção é discutir um texto que busque "pacificação". — Quero antes de dar o start dizer que essa é a pauta única hoje. A orientação da presidência é deliberar sobre essa questão da anistia, mas dizer que se o requerimento for aprovado será construir com o relator um trabalho que traga a pacificação — disse Motta.
Ao fim da sessão, ele disse que ainda irá definir um relator para o projeto, que vai apresentar um novo texto, chamado de substitutivo, no jargão legislativo. — Como presidente da Câmara, minha missão é conduzir o trabalho com equilíbrio. Vou garantir que todas as verdades serão ouvidas — afirmou ele. — Não se trata de apagar o passado, mas permitir que o presente seja reconciliado e o futuro construído com diálogo e respeito. Há temas urgentes pela frente e o Brasil precisa anda.
Nos bastidores, contudo, a avaliação de líderes de partidos é que o mérito não deve ser votado na próxima semana. Com a votação de hoje, Motta fez um gesto à oposição, que desde o início de seu mandato o pressionava para colocar a anistia em pauta. Entretando, agora deve dar tempo para que o grupo consiga construir uma proposta que seja considerada moderada.
Protestos e broncas
A sessão foi marcada por protestos de governistas e a defesa veemente da proposta pela oposição. As falas da oposicionistas chegaram a ser interrompidas por gritos de “sem anistia” e, em alguns momentos, Motta chegou a pedir respeito para que o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), pudesse concluir sua fala. Ele admitiu não haver acordo para votação do mérito.
— Hoje aprovando essa urgência, vamos buscar com equilíbrio para fazer justiça a essas pessoas condenadas de forma vingativa. Quero dizer que, com a aprovação desta urgência, não colocaremos a faca no pescoço do presidente e nenhum dos líderes ou bancadas para discutir o mérito no dia de hoje. Somos um partido da pacificação— disse ele.
A líder do PSOL, Talíria Petrone (RJ), afirmou que a decisão da Câmara envia um sinal equivocado à sociedade.
— Nós já sofremos uma ditadura e hoje, ao mesmo passo que o julgamento de Bolsonaro é consolidado, a Câmara decide aprovar urgência da anistia. É um dia triste para a democracia brasileira — declarou.