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Marie Clarie
PUBLICADO EM: 30/08/2016 11h43


'Não ouço minhas músicas', revela Marisa Monte

Em oportunidade rara, Marie Claire conversou com a maior cantora do Brasil. Prestes a completar 30 anos de carreira e 50 de vida, Marisa Monte discorreu sobre a música, a família, machismo na cena musical e disse que a idade não a amedronta


 Três e meia da tarde era o horário marcado para a entrevista com Marisa Monte. Três e meia da tarde meu avião pousou no aeroporto Santos Dumont, no Rio, com duas horas de atraso. No caminho até o Leblon, onde seria o encontro, eu listava, aflita, as consequências da demora. Marisa estaria de péssimo humor, não teria tempo, nem estaria me esperando. Contrariando as expectativas, ao atravessar a porta do apartamento de seu assessor de imprensa, a cantora abriu um sorriso: “Nós nos conhecemos, não?”. Ufa! Sim. Essa seria nossa quarta conversa, mas o primeiro longo têté-à-têté de verdade. Uma oportunidade rara de papear sobre a vida com a cantora mais importante e discreta do país.

E lá estava ela, bem-humorada e à vontade, com um vestido delicado, lenço vermelho amarrado em volta do pescoço e meia de náilon preta, look superfeminino, contrastando com os sapatos masculinos que ela adora, pois considera os saltos finos “uma ameaça” às mulheres. Os cabelos cacheados estavam presos de forma displicente e, no rosto, o único traço de maquiagem era um batom vermelho, uma de suas marcas pessoais.

Marisa faz poucas aparições. Quando surge é para falar sobre um novo trabalho, e ela acaba de lançar o disco Coleção, o 11o em três décadas de carreira. Desde quando começou a cantar, foram milhões de discos vendidos, quatro prêmios Grammy e hits que nunca saem de moda. De intérprete, tornou-se compositora, produtora, aprendeu a tocar instrumentos, produziu documentários e realizou a parceria mais estrondosa da música pop nacional ao lançar, em 2002, os Tribalistas, com os amigos Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes.

Com os amigos Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, parceiros na concepção de Tribalistas (Foto: Márcio Mercante)

Ao mesmo tempo que se abre no palco, fora dele Marisa tem uma vida reservada. Casou-se duas vezes, com o músico Pedro Bernardes, com quem teve Mano Wladimir, de 13 anos; e com o atual marido, o empresário Diogo Pires Gonçalves, pai de Helena, de 7. Sempre manteve a família longe dos holofotes. Nem os paparazzi conseguem capturar seu cotidiano. Marisa descreve sua rotina como intensa e produtiva, em que a música corre em paralelo a atividades como fazer tricô, crochê, costurar, cuidar do jardim e bater um bolo. Adepta de uma dieta saudável e de exercícios físicos, mudou pouquíssimo desde os anos 1980, mesmo prestes a completar 50 anos, em 1º de julho de 2017. A data não a assusta. Marisa espera, ansiosamente, completar 90. “Se Deus quiser, vou chegar lá!”

A seguir, confira os principais trechos da entrevista. Leia a matéria na íntegra na edição de setembro da revista que já está nas bancas.

Marie Claire Existe uma lenda de que você é superorganizada, rigorosa. É mesmo?
Marisa Monte Minha casa é arrumadinha [risos]. Funciono melhor organizando meus horários, meus dias. Mas ninguém está sempre com tudo em cima. Tem sempre um exame faltando na data da consulta com o médico. Alguma coisa sempre fica para depois.

MC Desde que você estreou com MM, em 1989, sua carreira seguiu em ascensão meteórica. Isso é reflexo dessa organização? Foi tudo planejado?
MM Planejado no tanto que a vida pode ser. Você acordou cedo para vir me entrevistar, mas o avião quebrou, atrasou três horas... Você veio no maior planejamento, mas a vida é a vida. Você faz o seu melhor, mas está sujeito às intempéries, aos imprevistos. Essa é a beleza de viver. Eu procuro estar sempre com uma margenzinha de vantagem para não ficar muito desesperada. Mas, mais do que organizada, sou cuidadosa. Isso se reflete em minha música.

MC Entre uma turnê e outra, você desaparece. O que faz quando está sumida?
MM Gravo discos, cuido do meu acervo, componho, estudo um novo instrumento. Também assisto a shows, ouço música dos outros. Preciso me nutrir: ver filmes, ler livros, bater papo, ir a uma exposição, viajar sem ser para trabalhar. Enfim, viver. Minha criação é reflexo disso.

Aos 16 anos, fazia roupas de couro para vender. Minhas mãos eram cheias de calos"
Marisa Monte

MC Quando foi que você sentiu que ia viver de música?
MM Esse momento não existiu. Lembro que, com 13 anos, as pessoas diziam: “Ai, ela canta. Canta pra gente?”. E estão pedindo até hoje [risos]. Trabalho desde os 14, 15 anos. Desenhava minhas próprias roupas. Aos 16, tinha uma empresa. Criei uma bolsa de couro e todo mundo pediu uma igual. Passei a vendê-las e também brincos. Minhas mãos eram cheias de calos. Ao mesmo tempo, fazia música. Sempre achei que podia rea­lizar várias coisas. Até hoje, faço tricô, crochê, costuro. Podia trabalhar com moda. Sou boa empreendedora.

MC Você tem o costume de ouvir suas próprias músicas?
MM Muito pouco. Só a trabalho. Claro que, se estiver num lugar e tocar, ouço. Mas colocar meu disco para tocar, não. Se autoconsumir não faz muito sentido.

Em um show em Londres, em 2012, que homenageava o Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas (Foto: Julian Finney)

 






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