Felipe Frazão
PUBLICADO EM:
02/08/2025 06h57
Lula reage a Trump e diz que sempre esteve aberto ao diálogo, mas trabalha para responder tarifaço
BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu nesta sexta-feira, dia 1º, à afirmação do presidente Donald Trump de que o petista poderia entrar em contato com ele a qualquer momento.
“Sempre estivemos abertos ao diálogo”, disse Lula em postagem no X, horas depois da declaração de Trump, que também justificou o tarifaço de 50% pelas “coisas erradas” feitas por quem governa o País.
“Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições. Neste momento, estamos trabalhando para proteger a nossa economia, as empresas e nossos trabalhadores, e dar as respostas às medidas tarifárias do governo norte-americano”, escreveu o petista na mensagem.
Nesta sexta-feira, em entrevista curta na Casa Branca, Trump afirmou que Lula poderia falar com ele quando quisesse. As declarações foram dadas em resposta à jornalista Raquel Krähenbühl, da TV Globo e da GloboNews.
Trump foi questionado diretamente sobre se estava disposto a discutir as tarifas aplicadas ao País e reafirmou que Lula pode falar com ele, repetindo a mesma frase: “Ele pode falar comigo quando quiser”. Na sequência, ao ser perguntado sobre o que estaria em pauta para o Brasil, completou: “Vamos ver o que acontece. Eu amo o povo brasileiro”.
Questionado sobre o componente político nas tarifas, já que inexiste desequilíbrio comercial desfavorável aos EUA, Trump afirmou que “as pessoas que governam o Brasil fizeram a coisa errada”.
Integrantes do Itamaraty e do Palácio do Planalto, reservadamente, disseram que agora é necessário verificar se Trump dará sinal verde para a burocracia americana preparar de fato uma primeira conversa de máximo nível político. E salientaram que o americano apenas respondeu a uma pergunta em momento informal na Casa Branca, e que um telefonema entre chefes de Estado requer preparação cuidadosa.
Lula havia dito que escalara ministros para tentar intermediar contatos, mas que a resposta até então havia sido negativa para uma conversa na Casa Branca. Em 11 de julho, dois dias após anunciar o tarifaço de 50%, Trump dissera que só conversaria com o petista “em outro momento”.
Como mostrou o Estadão, Lula cogita ligar para Trump, mas queria antes ter a certeza de que o americano iria atender a ligação e focar em comércio na conversa - ou seja, o petista não vai dar margem para negociar assuntos institucionais e de soberania.
Há receio no Palácio do Planalto de que ele seja submetido a algum tipo de constrangimento político ou humilhação, mesmo por telefone ou videochamada.
Em entrevista ao The New York Times, o brasileiro afirmou que o País “não negociará como se fosse um país pequeno contra um país grande”. O próprio Lula disse que deseja ser tratado com respeito e civilidade.
Ambos têm um histórico de declarações hostis mútuas no passado e jamais interagiram ou se encontraram pessoalmente. Integrantes do governo dizem que movimentos exploratórios, que podem ajudar a preparar o terreno para um contato no mais alto nível estão em curso.
O estreitamento de contatos entre equipes de governo faz parte desse processo. Na quarta-feira, dia 30, pela primeira vez o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) conversou com o secretário de Estado, Marco Rubio, em encontro discreto em Washington, fora do Departemento de Estado e da embaixada brasileira.
Os contatos mais frequentes têm sido feitos pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). A equipe dele trabalha com expectativa de novos contatos, em nível técnico e político.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que deve falar mais uma vez com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, na próxima semana. O encontro deve ocorrer após contato da equipe do americano nesta quinta-feira, dia 31, segundo o governo brasileiro.
Na última quarta-feira, 30, o presidente americano assinou a ordem que define a tarifa adicional de 40% sobre o Brasil (além dos 10% inicialmente aplicados como tarifa recíproca), apontando especialmente razões políticas em seu comunicado, com ataques ao governo brasileiro e ao ministro Alexandre de Moraes, em razão do julgamento de Jair Bolsonaro e da regulação das big techs. Apesar disso, quase 700 produtos brasileiros foram isentos da tarifa.
Contatos entre os governos Lula e Trump:
- Videoconferência entre Geraldo Alckmin, Howard Lutnick (Secretário de Comércio) e Jamieson Greer (USTR)- 6/3
- Reuniões virtuais entre Mauro Vieira e Jamieson Greer (USTR) - 8/3 e 2/4
- Encontro presencial entre Fernando Haddad e Scott Bessent (Secretário do Tesouro) na Califórnia - 4/5
- Dez reuniões de negociação tarifária no grupo de trabalho entre técnicos de ministérios do Brasil e contrapartes americanas - 8/3 a 4/7
- Viagem dos embaixadores Mauricio Lyrio e Fernando Pimentel (equipe da Secretaria de Assuntos Econômicos e Financeiros) a Washington para reunião com representantes de Comércio - 26/3 a 28/3
- Duas reuniões virtuais entre Geraldo Alckmin e Howard Lutnick (Secretário de Comércio) - 19/7 e 28/7
- Encontro presencial entre Mauro Vieira e Marco Rubio (Secretário de Estado) em Washington - 30/7
Segundo o MDIC, o Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais criado em julho por ordem de Lula já realizou 27 reuniões com 162 representantes públicos, 225 representantes privados e 123 entidades privadas (empresas, associações, federações). Três reuniões envolveram empresas norte-americanas, a última delas com William Kimmitt, advogado representante da Secretaria de Comércio dos EUA.

