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A indústria melhora condições de vida de famílias mesmo nas cidades onde ainda não há indústrias


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17/10/2016 18h27 - Atualizado em 17/10/2016 20h14

A indústria melhora condições de vida de famílias mesmo nas cidades onde ainda não há indústrias

"Trabalhadores do setor de recolhimento de materiais recicláveis são exemplos de que a indústria contribui até indiretamente no aumento da renda de muitas famílias brasileiras."

*Jota Menon


Ramão diz que aquilo que para muita gente não passa de lixo ele chama de “meu tesouro!”

 Você já imaginou alguém lhe afirmando, em uma pequena cidade, onde não há nenhuma indústria instalada, que a sua principal fonte de renda vem da indústria?

Pois é. É bem provável que, diante de uma afirmativa dessa natureza, você possa imaginar que o seu interlocutor esteja “viajando na maionese”.

Mas, não está.

Principalmente se quem lhe fizer tal afirmação for uma pessoa humilde, às vezes, trajando roupas idem e que atue, por exemplo, na área de recolhimento de materiais recicláveis, como ocorre em dezenas, centenas, talvez milhares de municípios espalhados pelo continental território brasileiro.

Em Maracaju, a 160 km de Campo Grande, ainda não há um parque industrial instalado e, logo, não existe um grande número de pessoas que se encaixe no perfil de “industriário”, a classe de operários que, diariamente, movimenta as indústrias brasileiras.

Mas, na cidade, há uma associação, espécie de cooperativa, que congrega trabalhadores que garantem a subsistência de suas famílias graças à existência de indústrias recicladoras instaladas em outras regiões do Brasil. Trata-se da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Maracaju.

A Associação é integrada, atualmente, por 10 trabalhadores, todos cadastrados na Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Município.

São esses trabalhadores os responsáveis pela coleta e separação do lixo reciclável no perímetro urbano do município, assim como pelo recebimento e separação do lixo recolhido pela própria municipalidade que criou um programa de coleta seletiva exatamente para beneficiá-los.

RECICLA MARACAJU - Para o estabelecimento da parceria entre o município e a Associação foi criado o “Recicla Maracaju”, projeto de coleta seletiva que conta com a participação direta da sociedade, haja vista que toda a mobilização nos bairros fica a cargo dos agentes ambientais do Projeto Ação Jovem.

Eles atuam na entrega de panfletos informativos e também como multiplicadores na comunidade instruindo a população sobre como agir para que o material reciclável (seco) seja separado de forma adequada.

O projeto surgiu com o objetivo de reduzir a quantidade de lixo produzida na cidade e incentivar a sua reutilização e reciclagem. Na atualidade, a coleta seletiva no município de Maracaju atende mais de 50% da cidade, com expectativa de que, em breve, todos os bairros sejam atendidos pelo “Recicla Maracaju”.

Ainda dentro da parceria firmada entre o poder público e a entidade representativa dos trabalhadores na coleta de materiais recicláveis, a municipalidade entregou uma balança de precisão à Associação e, através da Secretaria Municipal de Assistência Social, fornece os uniformes para que os associados sejam facilmente identificados pela comunidade.

 Jelton Revelino é coordenador do Projeto Recicla Maracaju

 

Jelton Revelino é coordenador do Projeto Recicla Maracaju

 

RENDA BOA - Jelton Revelino Vasconcelos Ferreira é o coordenador do Projeto “Recicla Maracaju”. Ele conta que o pessoal que atua na reciclagem tem uma renda mensal superior à da maioria dos trabalhadores braçais do município. E, de acordo com ele, “é daqui da reciclagem que estes pais e mães de família tiram o sustento e a manutenção de suas casas”.

Revelino relata que os catadores de materiais recicláveis são devidamente cadastrados na Prefeitura Municipal e são os responsáveis, além de recolher materiais pela cidade, pela separação dos produtos recolhidos no serviço de coleta seletiva.

Eles recebem todo o material da coleta e separa produto a produto que, depois de prensado, é vendido para a empresa REPLAN, de Campo Grande que, por sua vez, recomercializa com as indústrias de grandes centros, como São Paulo.

Atualmente, os recicladores maracajuenses são responsáveis pelo reaproveitamento de cerca de 20 toneladas de produtos recicláveis todos os meses.

Esse número que poderia ser maior, haja vista que há vagas para outros recicladores, mas muitos preferem recolher e comercializar diretamente com compradores de recicláveis. “Muitas pessoas vêm aqui para vender os produtos que recolhem diariamente, mas a Associação não compra nada. Ela existe para dar suporte aos catadores e separadores de lixo reciclável que estão associados a ela” frisa.

MELHOR TRABALHO DO MUNDO – O associado Ramão José Barbosa ao ser questionado pela reportagem como definiria o trabalho que executa no projeto “Recicla Maracaju” não pestanejou para responder: “É o melhor trabalho do mundo”.

 

Separado, mas responsável pelos filhos que teve com a ex-companheira, Ramão diz que honra todos os seus compromissos com a renda que obtém através da coleta e da separação do lixo reciclável. “Se eu não tivesse essa oportunidade aqui no ‘Recicla’ certamente estaria desempregado ou num empreguinho aí ganhando um salário mínimo” frisa e se dirigindo ao depósito de recicláveis já prensados sintetiza o que pensa sobre o projeto: “Isso aqui, que para muita gente é lixo, pra mim é o meu tesouro”.

 

Reunião que definiu a criação da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Maracaju

 

PARCERIA COM A UEMS – A Associação dos Catadores foi incubada a partir de projeto de extensão da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS - em outubro do ano passado.

Foi um projeto de extensão desenvolvido na unidade de Maracaju que resultou no processo de geração de renda para um grupo de pessoas que vive da coleta de materiais recicláveis na cidade.

O projeto “ELOS - Incubadora de Tecnologia Social para Cooperativas Populares” teve como primeiro empreendimento incubado exatamente a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Maracaju-MS - ACMR.

Na época da incubação, o coordenador do projeto, professor Alex Sandro Richter von Mühlen, explicou que  projeto de extensão era multidisciplinar e financiado pelo Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), tendo como objetivo estimular e assessorar as cooperativas populares voltadas a atender coletividades em situação de vulnerabilidade socioeconômica

Foi desta forma que a UEMS de Maracaju prestou um grande serviço na orientação para que fosse criada a associação que atua nos moldes do cooperativismo. No caso da ACMR, as pessoas que a compõem precisavam se organizar em torno de uma cooperativa popular para que pudessem obter mais ganho e, com isso, sustentarem suas famílias.

Durante o desenvolvimento do projeto, a Incubadora ELOS adotou diversas metodologias de pré-incubação e incubação junto ao grupo atendido, dentro do princípio da economia solidária.

Hoje, segundo Jelton Revelino, a Associação funciona de forma independente contando, sempre, com o apoio da administração municipal maracajuense.

12 BILHÕES POR ANO – Em 2013, de acordo com reportagem veiculada pelo jornal VALOR ECONÔMICO, de São Paulo, o segmento dos catadores de materiais recicláveis movimentou a astronômica cifra de R$ 12 bilhões. Conforme a publicação, naquele ano eram 800 mil catadores no país, ainda que nem todos fossem organizados como os de Maracaju.

Deste total, 60 mil estavam integrados em associações e cooperativas, segundo dados do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre).

Embora pareça um número baixo, já se registrava uma evolução, segundo afirmou André Vilhena, diretor-executivo da associação sem fins lucrativos dedicada à promoção da reciclagem.

“Somos um país com uma Política Nacional de Resíduos Sólidos e isso, por si só, já é um grande avanço” disse.

“Há 25 anos decidimos adotar a reciclagem como estratégia e hoje 50% da produção nacional é reaproveitada”, contou Carlos Morais, diretor de Negócios de Reciclagem da Novelis para América do Sul. “A meta é alcançar 80% até 2020”, diz.

Para isso, a companhia investiu US$ 32 milhões numa segunda linha de reciclagem na planta de Pindamonhangaba, no interior de São Paulo, de um total de US$ 300 milhões aplicados no país para ampliar a capacidade produtiva de 400 mil toneladas por ano de alumínio para 620 mil toneladas anuais.

“Atualmente, 75% do que sai como latinha vazia volta para a Novelis, o que representa em economia de energia de 6% de tudo que é gerado por uma Itaipu”, compara Moralis. “Nesse processo, a coleta é fundamental e o catador é figura central nos resultados obtidos”.

Ele destaca, porém, que é preciso lembrar que além de preço e qualidade, atributos como a adoção da logística reversa precisam ser incluídos na hora de escolher um bem durável.

A AmBev é outra empresa que organizou ações voltadas para a reciclagem. O sistema de Gestão Ambiental criado há 20 anos em todas as suas fábricas gera 99,05% dos subprodutos de seu processo de fabricação.

Nos últimos dez anos, houve redução de 81% da quantidade de resíduo gerado. A fábrica de vidros, construída em 2008, se tornou uma das grandes recicladoras de cacos. Lá, 75% da matéria prima é formada por cacos de vidro vindos das cooperativas parceiras da cervejaria. A produção gera uma economia de 30% de energia.

Na Pepsico, somente com os displays reciclados, houve economia de 33% comparando com a matéria prima virgem usada anteriormente.

“Além de utilizar materiais reciclados, a redução de material em nossas embalagens, em cerca de 20% representa uma economia real de custos”, frisou a gerente de Sustentabilidade da PepsiCo do Brasil, Claudia Pires. 

 Diretoria da ACMR em frente ao prédio onde funciona a instituição





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